quarta-feira, 28 de maio de 2008

Apontamentos


De quando em quando o pensamento acerca do futuro irrompe na nossa consciência com mais fulgor do que aquilo que normalmente acontece. Seres marcados pela dimensão da temporalidade e, portanto, intimamente ligados às circunstâncias, aos projectos que preenchem a vida, não abandonamos de ânimo leve a projecção do futuro. Faz parte da nossa essência a insatisfação, a inconclusão permanente, a árdua vontade de conquistar o futuro, de prever, de antecipar, de projectar, de planear com mais ou menos antecedência o futuro próximo e distante. Viver um dia de cada vez não significa que se afaste uma visão ampla daquilo que virá a ser o futuro, significa tão só que a cada momento nos sentimos mais próximos do instante que se segue, procurando na insatisfação de não ter alcançado ainda o momento seguinte a força capaz de nos conduzir aquilo que ansiamos (mais e melhor do que aquilo que agora vivenciamos). Que os tempos difíceis não nos tirem a força, e muito menos a esperança, de momentos próximos e distantes com horizontes mais alargados.

2 Notas: a) "Injustiça, desigualdade e impunidade são as marcas do mundo de hoje. Os governos devem agir agora para diminuir a distância que separa as suas promessas do seu desempenho”. O relatório de 2008 da Amnistia Internacional mostra que, 60 anos depois da Declaração Universal dos Direitos Humanos ter sido adoptada pelas Nações Unidas, as pessoas ainda são torturadas ou maltratadas em pelo menos 81 países, enfrentam julgamentos injustos em, pelo menos, 54 países e são proibidas de se expressar livremente em, pelo menos, 77 países. "O ano de 2007 caracterizou-se pela impotência dos governos ocidentais e pela ambivalência ou relutância das potências emergentes para enfrentar algumas das piores crises de direitos humanos do mundo, desde os conflitos enraizados até às crescentes desigualdades que estão a deixar milhões de pessoas para trás", afirmou Irene Khan.

b) "O preço do petróleo valia hoje quase menos nove dólares (5,75 euros) em Nova Iorque, face ao recorde histórico de 135,09 dólares (86,31 euros) atingido a 22 de Maio, reagindo ao efeito da queda do consumo de combustíveis nos EUA" in Publico. Esperamos para ver os reflexos por cá nos preços dos combustíveis. Será que sim, será que não?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Dizer não

Os indicadores económicos e sociais que têm vindo a público traçam cada vez mais um cenário no mínimo acizentado quanto aquilo que será o panorama futuro da vida dos cidadãos, as taxas de juro dos empréstimos bancários não permitem grandes sorrisos, os aumentos dos salários continuam abaixo da inflação prevista, o crescimento económico é revisto em baixa face às previsões iniciais do Governo, a taxa de desemprego estabilizou mas não dá grandes sinais em querer diminuir, o custo de vida tem aumentado progressivamente, seja no preço dos bens alimentares, seja no preço dos combustíveis. Para além disto, salienta-se ainda que os indicadores sociais dizem nos que há cada vez mais gente no limiar da pobreza, que continuamos a distribuir de forma pouco equitativa a riqueza produzida, o fosso entre ricos e pobres agudiza-se portanto.
Perante este cenário precisa-se, não de eufemismos ou de paliativos para atenuar esta ou aquela maleita, mas de uma atitude séria, responsável e de rigor por parte de todos aqueles que podem e devem ser parte da resposta, sejam eles organismos do Estado ou instituições e organizações da sociedade civil. Não se espere só de um a resposta ao problema. Que cada um, orgãos do Estado incluídos, assuma uma atitude de força, que tenha a ousadia de dizer não (é difícil certamente) perante situações de manifesta afronta ao interesse público. Foi preciso chegar a este ponto para se perceber, por exemplo, que a liberalização do preço dos combustíveis durante estes anos tem sido muito provavelmente uma mega operação de maquilhagem?!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Factos preocupantes

Perante a tragédia consumada resta acima de tudo a ajuda, ajuda tal que perante uma tragédia humana com milhares de mortos e desalojados (35 mil de acordo com a contagem oficial das autoridades da Birmânia, perto de 100 mil estima a ONU) só se poderá chamar mesmo de ajuda humanitária. Quando se trata, como é caso, de uma tragédia humana que como a própria palavra indica envolve seres humanos porque há tanta relutância em agir quando há manifesta vontade e disponibilidade para o fazer?! Ficamo-nos só pelas palavras de condenação ao regime militar da Birmânia, e a "responsabilidade de proteger" constante da Carta das Nações Unidas. O ser humano em toda a sua fragilidade está antes de qualquer entrave económico, diplomático, de veto de um qualquer representante político, e está antes uma vez que foi exactamente o fundamento para a criação da Sociedade das Nações no pós II Guerra Mundial. Houve quem coloca-se em marcha a guerra em nome de um mundo mais livre e democrático, agora não se pede a guerra, apenas a ajuda a seres humanos altamente fragilizados por uma tragédia.
Por cá assistimos a mais um (já lá vão quinze) aumento do preço dos combustíveis, neste caso três cêntimos. As contas são simples de fazer, uma de somar outra de subtrair. Quem soma: as petrolíferas, as refinarias, os especuladores do mercado financeiro, o Estado (ISP e IVA); quem subtrai: os consumidores, ou seja, a maioria dos portugueses. Resumindo, ganham poucos, perdem muitos. Nem sempre a razão está do lado da maioria, mas neste caso sim, há mesmo razão de queixa.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Umas quantas considerações

Duas palavras: inaudito e incrível. Inaudito porque quanto mais se conhece dos contornos da história de Josef Fritzl mais se fica com o sentimento de que se trata de uma personagem inaudita, que excede por defeito os parâmetros pelos quais estamos habituados a avaliar o ser humano. Mais uma personagem que pode constar como uma figuração do mal, do absurdo. Incrível porque ficará sempre a pergunta: como pode parte de uma família viver 24 anos sequestrada na cave da sua própria casa sem que, cá em cima, todos os outros se dêem conta (família, hóspedes, vizinhos, polícia e o Estado Austríaco)?!
Quanto vale o exercício do poder, a influência, o governo de um Estado?! Por cá fazemos esta pergunta aos diversos candidatos do PSD, entre eles Pedro Passos Coelho, Manuela Ferreira Leite e Pedro Santana Lopes (ordem cronológica de apresentação das candidaturas). Começamos a procurar a resposta na frase que o marketing político de cada um pretende vender ao país: "O futuro é agora"; "Por Portugal, pelo PSD"; "Portugal: ambição de ganhar" respectivamente. A acreditar no que é dito, o poder vale o futuro e Portugal. Será mesmo este o seu valor?
Do outro lado do oceano fazemos esta pergunta a Barack Obama e Hillary Clinton. E acrescentamos uma outra: para quando o ticket presidencial? Ou o exercíco do poder vale pela obsessão de o ter...
Afinal raramente tenho dúvidas mas até me posso enganar e dizer o que me vai na mente sobre o que tenho feito ultimamente, terá sido este o pensamento de José Sócrates ao dizer: "o senhor deputado disse que há motivos de sobra para censurar este Governo, mas estes são os motivos errados." Com certeza que o Primeiro Ministro mais do que ninguém saberá os motivos certos para censurar este Governo. Enquanto for só ele a saber lá vai exercendo o poder...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Maio


Poder dizer não, poder reivindicar, poder lutar por melhor...