P. Quando diz que o verbo Ensinar foi banido, está a referir-se ao facto de ele ter sido banido do discurso oficial?
R. Sim, e essencialmente dos programas. Segundo esse discurso, um professor não ensina, deve apenas «respeitar o discurso que os alunos trazem de casa», estar atento aos seus interesses, deixando-se estimular por eles. Esta nova estratégia pedagógica foi apresentada, como incontornável, numa acção promovida pelo Ministério da Educação (ME), em que estive presente (...)
P. Como interpreta isso?
P. Como interpreta isso?
R. Pura e simplesmente como estratégia para obter um êxito rápido e cumprir metas estatísticas. Com efeito, as novas teorias pedagógicas, uma ofensa à nobreza da pedagogia, viciam os alunos no facilitismo, cultivando a preguiça e a ignorância e afastando-os do convívio, consequente, com os textos literários, (no caso do Português), cuja leitura agora se denomina «recreativa»; por outro, querem fazer ver aos professores que a situação se inverteu e agora são os alunos que «ensinam» e definem as regras do jogo. (...)
P. E que compete precisamente ao professor mostrar novos caminhos, outros mundos para além do deles. Ou não será o maior interesse dos alunos justamente aprender? e aprender coisas novas, que não se conhecem se não forem mostradas?
R. (...) A esta desigualdade de oportunidades, que a Escola promove, chama-se cavar o fosso entre ricos e pobres, para mais tarde, como diria Vieira, no seu «Sermão de Santo António aos peixes», os maiores comerem os mais pequenos. Expressiva é também a frase de uma das canções de Schumann: “Aqueles que são ignorantes são fáceis de conduzir». Na verdade, quem não pensa, acaba por baixar os olhos, caminhar em grupo, seguindo os passos de quem o conduz, esquecendo-se de si próprio. E é um crime, fazer com que os alunos se esqueçam de si próprios, se anulem enquanto seres humanos, nunca reflictam sobre o que quer que seja. E depois admiramo-nos com o facto de os jovens não irem votar...
Maria do Carmo Vieira in Notícias Magazine
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